Água potável, ar puro, florestas verdejantes – três bens vitais
que estão se tornando escassos. Eis um lembrete de que a exploração inadvertida
dos recursos do planeta deixou de ser opção. Consumir de modo consciente é uma
necessidade, especialmente no que se refere a fontes de energia renováveis e de
baixo impacto ambiental.
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), cerca de
90% do que é consumido no Brasil provém de usinas hidrelétricas. Embora sejam
uma fonte sustentável, estão sujeitas a fatores que interferem em sua
capacidade, como as mudanças climáticas – que provocam estiagem e diminuem o
nível dos rios – e a falta de investimentos em infraestrutura, que resulta em
falhas de distribuição, os “apagões”. Assim, apostar em formas alternativas de
energia é um meio de garantir o abastecimento no futuro.
Ecológica e econômica
Em um país tropical como o nosso, é um desperdício não tirar
máximo proveito da energia solar. São duas as modalidades passíveis de uso
doméstico: a fototérmica emprega a radiação para aquecer água ou gás, enquanto
a fotovoltaica converte a luz em energia elétrica. Essa última tem estado cada
vez mais presente nos lares brasileiros – de acordo com a Aneel, somente no ano
passado foram criados mais de 8 mil pontos de conexão de energia fotovoltaica,
quase o dobro em relação ao período anterior. “Entre os benefícios imediatos
para o consumidor que investe nessa fonte ecológica estão a valorização do
imóvel, a redução na conta de luz e, claro, o cuidado com o meio ambiente”,
enumera Denilson Tinim, da Fronius, multinacional especializada nesse segmento.
E, apesar de empregar equipamentos específicos, o sistema em si é bastante
simples, consistindo de três elementos.
Como funciona?
- O primeiro elemento é o
conjunto de painéis solares (1),
que transformam a luz em eletricidade. Quanto maior a incidência de sol,
maior a geração de energia. Assim, o local preferencial para a instalação
é o telhado do imóvel. “Se for de telhas cerâmicas, deve-se cuidar para
que os suportes do equipamento não provoquem fissuras que resultem em
infiltração”, aponta o engenheiro civil Marcelo Libeskind. Ele lembra que
a presença de árvores ou de prédios no entorno pode interferir na
captação.
- Eletricidade é transmitida em
forma de corrente, que pode ser contínua ou alternada. A segunda é capaz
de receber maior voltagem, o que lhe permite percorrer longas distâncias
sem perdas no caminho – é dessa forma que a energia produzida nas usinas
chega às casas e é consumida pelos aparelhos. No entanto, os painéis
solares geram uma corrente contínua. Entra em cena então o segundo
elemento – o inversor
(2) executa a conversão da corrente, bem como mede a
energia gerada e garante a segurança de todo o sistema.
- Armazenar a eletricidade
produzida é pouco viável para residências, por isso, o terceiro elemento é
a conexão com a rede de
distribuição local de energia (3), sob a responsabilidade
de concessionárias como a AES Eletropaulo, em São Paulo, e a Light, no Rio
de Janeiro, por exemplo. “Dessa forma, não há desperdício, uma vez que o
eventual excedente é repassado à concessionária em troca de créditos”,
explica Pedro Bressanin, da Blue Sol Energia Solar. Tais créditos podem
ser utilizados sempre que a residência precisar recorrer à eletricidade
fornecida pela rede pública – por exemplo, em dias de céu encoberto ou à
noite, quando há pouca ou nenhuma luz solar, e a geração, portanto, é
reduzida ou nula.
Vale a pena?
- Há questões que é preciso
considerar antes de investir em um sistema residencial de energia
fotovoltaica. A primeira é geográfica – a distância até a linha do
equador, região que recebe maior incidência de luz do sol no planeta,
interfere diretamente na capacidade de geração de eletricidade. Um sistema
instalado em Natal, por exemplo, será 27% mais eficiente do que um em
Porto Alegre, segundo dados do Centro de Referência para Energia Solar e
Eólica Sérgio de S. Brito (Cresesb).
- É preciso consultar a
concessionária local a respeito da disponibilidade de conexão com a rede
pública, a fim de deixar o sistema fotovoltaico “on grid” –expressão
técnica que significa “na rede”, em inglês. “Havendo essa possibilidade, o
medidor de energia convencional é trocado por um bidirecional, capaz de
mensurar também a energia a mais que o imóvel produz e repassa à
concessionária”, explica Marcelo Libeskind. Um sistema “off grid”, ou
seja, fora da rede, é possível – e, algumas vezes, empregado em indústrias
–, porém pouco viável para residências. Afinal, para se tornar
independente do fornecimento público nos momentos de geração baixa ou
nula, o morador teria de instalar baterias para armazenar o excedente
gerado.
A localização intefere na capacidade de produção
O valor elevado desse tipo de equipamento não compensaria o
investimento.
- Calcular seu consumo de
eletricidade também é essencial, pois serve para dimensionar quantos
painéis solares serão necessários e definir qual o inversor adequado.
Todavia, por mais eficiente que seja o sistema, nunca será possível zerar
a conta de luz. Isso porque, ainda que você consiga gerar excedente o
bastante para compensar a eletricidade que consumir da rede, existe o
Custo de Disponibilidade, uma taxa cobrada pela concessionária por
disponibilizar energia elétrica emcada residência.
- Finalmente, um dos aspectos
mais decisivos: o preço. Em um exemplo hipotético, um sistema capaz de
atender um imóvel localizado em Palmas, com consumo médio mensal de 327
KWh, custará algo em torno de R$ 24 mil. “O retorno desse investimento se dá
em cerca de oito anos, ao passo que o sistema tem durabilidade média de 25
anos”, observa Denilson Tinim. Ainda assim, trata-se de um valor alto. Só
resta torcer para que, com o avanço da tecnologia, os custos para
implantação dessa fonte sustentável de energia se tornem mais atraentes. O
planeta agradece.
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